Nasce uma pessoa, nasce uma conta. Isso já é praticamente uma realidade no Brasil, onde as instituições financeiras estão ampliando suas apostas em contas especiais para menores de idade. Os produtos simplificados permitem, em geral, recebimento de mesadas, pagamentos via Pix, emissão de cartões de débito, saques e até investimentos em CDB ou CDI. Para especialistas, essa pode ser uma forma de introduzir precocemente a educação financeira. Mas é preciso ter cuidado já que, com acesso aos serviços financeiros, os menores também ficam mais vulneráveis a golpes.

Há produtos que atendem de recém-nascidos a adolescentes de 17 anos. De agosto de 2022 a agosto deste ano, o número de contas com esse perfil no Yellow do C6 Bank, por exemplo, duplicou. Já o Nubank chegou a 1,2 milhão de clientes menores de idades cadastrados em um ano. O serviço é oferecido também por Caixa Econômica Federal, Picpay,Itaú, Inter, MercadoPago, Bradesco e Bancodo Brasil.

Educação financeira

Kenia Palmeira já abriu uma conta BB Cash para seu filho Pedro, de 13 anos.

— Essa conta facilita a transferência de dinheiro se ele precisa comprar um remédio e está sozinho em casa, se vai comprar a ração dos pets, se vai para um passeio da escola. Além de permitir que ele guarde dinheiro, quando ganha como presente de aniversário — diz.

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a conta bancária é o primeiro passo para inserir na vida da criança ou do jovem a educação financeira. Mas destaca a importância da orientação da família sobre organização financeira, risco do endividamento, poupança e investimentos.

Segundo o Banco Central, o menor de 16 anos precisa ser representado pelo pai, pela mãe ou pelo responsável legal. O maior de 16 e menor de 18 anos não emancipado também deve ser assistido.

A maioria das instituições exige que o responsável seja cliente e acompanhe as transações financeiras dos filhos.

— Se, por um lado, a criança ou o adolescente passa a ter autonomia para administrar o dinheiro, o responsável também consegue orientar e acompanhar. Ele acessa a movimentação via SMS ou push (notificação do app sobre valores movimentados, a partir de R$ 30) — explica Larissa Novais, diretora de Clientes Varejos do BB.

Maior vulnerabilidade

Especialistas em finanças, Hulisses Dias, criador do canal no YouTube a Carteira da Olívia, em referência à filha de 2 anos e meio, concorda:

— Com educação financeira, a criança aprende a lidar melhor com os impulsos emocionais, a postergar a recompensa e como assuntos variados influenciam na vida dela e no seu dinheiro.

Por conta da inocência e da pouca experiência tanto no mundo virtual quanto no financeiro, Marcia Netto, CEO da Silverguard, considera que as crianças e os adolescentes brasileiros podem ser ainda mais vulneráveis a golpes. Dayana Costa, DPO da Incognia, empresa que oferece soluções para segurança de contas em toda a jornada digital, concorda e reforça a necessidade de adoção de práticas protetivas:

— Os menores estão muito mais sujeitos a serem vítimas. E, por isso, é papel conjunto dos pais e dos bancos não só adotarem medidas de segurança para protegê-los, mas conscientizá-los para isso.

Dayana alerta para algumas das fraudes comuns:

— Os criminosos podem se passar por gerentes de bancos e até pais, em contato por telefone ou WhatsApp, para pedir dados pessoais para a criança ou o adolescente, pedir transferência bancária. Podem pedir para clicar em um link que vai instalar um malware no celular do menor, que consegue alterar o valor e o destino de um Pix. Então, é importante ensinar cuidados — alerta.

Especialistas dizem ainda que é preciso analisar o contrato com atenção.

— Os pais precisam entender as tarifas e as exigências. A relação com o dinheiro não é brincadeira. É fundamental entender as regras do jogo — avalia Carla Beni, economista e professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas.

Confira os cuidados ao contratar

  • Adesão – Verifique as condições oferecidas pelos bancos, incluindo a cobrança de taxas e tarifas, os pacotes gratuitos e as regras de adesão.
  • Monitoramento – Confira se as movimentações que serão feitas pelo dependente poderão ser monitoradas e autorizadas antes de serem realizadas.
  • Ferramentas – Saiba quais são os instrumentos disponíveis para bloquear ferramentas ou transações.
  • Crédito – Observe as regras de concessão de empréstimo, e se há formas de o dependente conseguir obter crédito na instituição financeira. O ideal é bloquear essas opções.
  • Extrato – Acompanhe o extrato de transações e veja se há descontos ou gastos que o responsável ou o dependente não reconheçam.
  • Segurança – Ao escolher banco ou aplicativo, opte por aquele que adote medidas de segurança consistentes, de preferência mais de uma camada.
  • Alerta – Ensine aos menores sobre riscos financeiros, a não clicar em links enviados por e-mail e WhatsApp, e alerte sobre golpes para que estejam menos vulneráveis a investidas de criminosos.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/noticia/2023/09/17/quer-abrir-uma-conta-no-banco-para-seu-filho-veja-pros-e-contras.ghtml