As antigas mensagens de texto — chamadas de SMS — não param de surgir no celular. Os torpedos, como ficaram conhecidos, foram redescobertos por estelionatários, que buscam a cada dia um novo caminho para tirar dinheiro das vítimas. Difícil encontrar quem não receba uma enxurrada desses alertas com cobranças de bancos, compras feitas em lojas ou avisos de expiração de pontos de milhagem. A estratégia é levar a pessoa a telefonar para uma falsa central ou a clicar em um link. Assim é dado o primeiro passo para o furto de dados pessoais e bancários. Nos últimos seis meses, 1.724 golpes desse tipo foram registrados em delegacias no Estado do Rio, segundo levantamento feito pelo GLOBO. A média é de nove casos por dia.

A “modalidade” na qual os criminosos fazem a vítima ligar para um número que seria a central de um banco, por exemplo, ficou conhecida como “golpe do 0800”. Uma das estratégias é enviar uma mensagem informando sobre uma compra que teria sido feita ou uma transferência bancária. No texto, os golpistas informam um número para a pessoa ligar, caso não reconheça a transação. Preocupadas, as vítimas são atraídas para a central da quadrilha. Durante a ligação, com a justificativa de cancelar a transação anterior — que nunca existiu —, os golpistas conseguem levar as pessoas a fazerem transferências bancárias, acreditando que estão resolvendo o problema.

Acesso remoto

Há, ainda, outra armadilha: durante a ligação, os golpistas convencem a vítima a instalarem um aplicativo em seu celular. Assim, conseguem acesso ao aparelho remotamente. Foi o que aconteceu com uma aposentada de 60 anos, moradora de Copacabana, na Zona Sul do Rio. Na segunda quinzena de julho, ela recebeu uma mensagem informando sobre uma compra de R$ 7 mil em uma loja de departamentos e um número de contato. Intrigada por não ter feito a transação, ligou para o telefone e foi atendida por uma mulher que se identificou como funcionária da Caixa Econômica Federal.

A golpista orientou a aposentada a baixar o aplicativo Scret.me. Em seguida, seguiu várias orientações para supostamente receber de volta os R$ 7 mil — dinheiro que ela não tinha sequer gastado. Ao fim da transação, a vítima percebeu que se tratava de uma golpe, mas já era tarde: com acesso remoto à sua conta, os criminosos fizeram um Pix de R$ 7 mil e outro de R$ 30 mil. O caso está sendo investigado pela delegacia de Copacabana.

Adriano Volpini, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), explica que o “golpe do 0800” é uma espécie de evolução do golpe da central telefônica, na qual os bandidos ligavam para o telefone da vítima simulando ser de um banco. Com a difusão de informações sobre a estratégia, os criminosos inventaram uma nova. Ele explica que a utilização de números 0800 surge para dar mais credibilidade à investida.

— O golpista não para. Tudo é motivo para criar um golpe novo. É preciso ficar alerta. Os bancos não vão enviar mensagens informando um 0800 ou qualquer outro número para você ligar. Mas, se quiser entrar em contato, veja o telefone no site oficial do seu banco ou dentro do aplicativo. Outra possibilidade é usar o chat com seu gerente, também no aplicativo — ensina.

Nos textos enviados, é comum que os estelionatários escrevam os nomes dos bancos errados, faltando uma letra ou com pontos entre as letras. Tudo estratégia para tentar burlar ferramentas de controle de envio de mensagens com os nomes das instituições financeiras.

— A mensagem enviada pelo banco jamais vai ter o nome errado — complementa Volpini.

Para induzir a vítima, os criminosos da falsa central usam músicas dos bancos e até reproduzem a forma de atendimento da instituição financeira. A semelhança fez o estudante Y. quase ser mais uma vítima. Após ter recebido uma mensagem informando que o token da sua conta do banco XP tinha sido usado em outro dispositivo, ele fez contato com o número 0800 indicado no texto.

— O padrão da mensagem e do atendimento eram exatamente iguais aos da XP. E eles tinham todos os meus dados. Eles disseram que enviariam um link para o meu e-mail, para redefinir a senha. Mas percebi, falei com meu assessor de investimentos, e ele me alertou que aquele número para o qual liguei não era da XP — relata.

O estudante afirma que chamou sua atenção a quantidade de informações pessoais suas que os golpistas tinham e acredita que os criminosos tenham tido acesso a dados de outros clientes.

— Em geral, as pessoas têm vergonha de dizer que caíram em golpes. Mas qualquer pessoa vai cair em algum momento porque é um número brutal de tentativas — diz o estudante.

Milhas prestes a expirar

No golpe em que é enviado um link, uma das estratégias é simular mensagens de bancos com informações de que a pessoa possui pontos prestes a expirar em programas de milhagem de cartões. Ao clicar no link, a vítima é direcionada para um site no qual precisa fornecer os números de agência, conta e senha. Com isso, os dados são furtados pelos criminosos.

Os bandidos também enviam links em mensagem informando que a pessoa tem débitos a negociar. Acreditando estar endividada, a vítima clica no endereço. Caio Rocha, diretor de Produtos de Autenticação e Prevenção à Fraude da Serasa Experian afirma que as quadrilhas especializadas aproveitam temas que estejam em voga para aplicar golpes, além de datas específicas. Segundo ele, o programa de renegociação de dívidas do governo federal fez com que o assunto ficasse popular, passando a ser mais utilizado pelos criminosos. Dado da Serasa revela que, de janeiro a junho deste ano, foram registradas 456 mil tentativas de fraude no Rio. São casos referentes à verificação de documentos, biometria facial, verificação cadastral e roubo de identidades.

— É preciso ter cuidado com datas e temas específicos, como é o caso da renegociação de dívidas. Essas quadrilhas ficam atentas a essas tendências para atingir o consumidor. Eles focam na vulnerabilidade das pessoas. É importante ressaltar que a Serasa só atua pelos seus canais oficiais. E a dica é válida para outras empresas: busque sempre os canais oficiais — recomenda.

Saiba mais sobre as fraudes

  1. MENSAGENS COM LINKS

Os golpistas tentam fazer com que as vítimas cliquem em links enviados por SMS. Uma das estratégias usadas é dar falsos alertas de que há pontos prestes a expirar em programas de milhagem de cartões. Para isso, os criminosos se passam por bancos.

Outra estratégia é enviar falsas propostas de negociação de dívidas simulando ser do Serasa. Acreditando estar com o nome sujo, as vítimas acabam entrando no link.

  1. CENTRAIS DE ATENDIMENTO FALSAS

Nos golpes por SMS, os criminosos enviam mensagens informando que uma compra – geralmente em lojas de departamento ou sites de compras – foi concluída e inclui um número de telefone para mais informações. Acreditando que, de fato, houve uma compra não reconhecida em seu cartão, a vítima liga para a falsa central de atendimento e acaba fazendo novas transferências mesmo sem perceber.

Para atrair a vítima para a central telefônica, os golpistas também enviam mensagem informando, falsamente, que um empréstimo foi aprovado, fornecendo um contato para tirar dúvidas.

Mais uma forma de atrair é simular que houve um acesso a uma conta bancária ou uma ativação do token, também levando a pessoa a ligar para uma central que acredita ser da instituição financeira. Ali, a vítima acaba fornecendo dados pessoais, que serão usados em golpes.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/09/03/golpe-do-sms-veja-as-mensagens-que-criminosos-enviam-para-fisgar-vitimas.ghtml