Veja como identificar descontos reais, comparar preços, escapar de armadilhas e ainda escolher a melhor forma de pagar.

Por: Ana Clara Veloso,Carolina Nalin e Marcos Furtado. Rio de Janeiro

Faltam menos de duas semanas para o que já virou uma das datas de maior venda no comércio brasileiro: a Black Friday, que acontecerá em 29 de novembro. Mas a temporada de ofertas com esse nome já começou em muitas lojas.

A edição deste ano tem tudo para superar a campanha sem muitas ofertas em 2023. Foi o segundo pior resultado no Brasil desde 2010. Com crescimento econômico acima do esperado e desemprego em baixa neste ano, o cenário deve ser outro. Consumidores de todo o país deverão gastar R$ 15,8 bilhões na promoção de novembro, segundo projeção do Datafolha.

— Há projeções de 9% de crescimento em vendas nesta Black Friday. Haverá mais produtos e mais qualidade de ofertas — diz Ullysses Reis, gerente de Varejo da Strong Business School (SBC). — É interessante para o consumidor começar a procurar o que deseja no “Esquenta Black Friday”. Muita coisa vale a pena.

Levantamento do comparador de preços Buscapé mostrou que o celular foi o produto mais procurado nos 11 primeiros dias de novembro. As buscas aumentaram 30,64% e o preço médio caiu 0,62% na comparação com o início de outubro. Dos dez itens mais buscados, seis tiveram alta: geladeira, lavadora de roupas, fogão, console de videogame, tênis e tablet.

— Na Black Friday, historicamente, o smartphone sempre foi o item mais procurado, muitas vezes pegando carona em lançamentos de modelos. A partir dessas buscas, a gente pode ver que as ofertas da Black Friday já começaram ao longo do mês, mas nem tudo entra em promoção ao mesmo tempo por uma estratégia de comércio — afirma Nayla Pires, diretora de Marketing do Buscapé.

Para Marco Antônio Quintarelli, consultor de Varejo da Azo Negócios, as lojas deverão investir em ofertas que estimulem a antecipação do consumo de fim de ano:

— Existe o impacto do valor do dólar, que está alto há alguns meses, sobre o valor de uma série de produtos, principalmente os eletroeletrônicos. No entanto, muitas empresas do setor estão apostando na Black Friday por uma questão de antecipação das vendas de Natal para bens duráveis e semiduráveis, porque no mês de dezembro o foco dos consumidores é nos preparativos da ceia.

Era cilada

Durante as compras, a atenção deve ser redobrada para garantir que o que era para ser economia não se transforme em prejuízo para os desprevenidos. Renata Ruback, diretora executiva do Procon Carioca, destaca a importância de se verificar a reputação da loja:

— Uma boa empresa não vai se esconder. Verifique se há canais de atendimento.

Entre os golpes comuns, Fernanda Zucare, especialista em Direito do Consumidor da Zucare Advogados, destaca os “descontos exorbitantes” e os pagamentos via Pix.

— Desconfie de preços muito baixos, como descontos de 90%, que podem indicar se tratar de golpes. Prefira pagar com cartão, que é mais seguro e permite rastrear a compra. Além disso, use cartões temporários (que permitem uma única compra e, por isso, não podem ser hackeados) e evite salvar dados em sites — alerta Fernanda.

Outro cuidado que os consumidores precisam ter é com o phishing, prática em que os criminosos enganam as vítimas para obter informações pessoais, como números de documentos, senhas e dados bancários, e usá-las em golpes financeiros. Ricardo Vieira, vice-presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), orienta:

— Desconfie de mensagens e e-mails que peçam dados pessoais. Além disso, não clique em links suspeitos e só faça compras em sites confiáveis.

Bom demais para ser verdade

Também é comum neste período se deixar levar por ofertas tentadoras, boas demais para serem verdade. Os especialistas recomendam redobrar a atenção sobre os anúncios. Caso se sinta enganado com ofertas falsas, há canais específicos para fazer denúncias. É importante olhar com cautela promoções chamativas, com descontos excessivos, diz Alexandre Jabra, especialista em Direito do Consumidor do Trench Rossi Watanabe. Pode ser uma armadilha. No comércio eletrônico uma dica é checar a URL do site (procurando o “https”, que é um certificado de segurança) e verificar a linguagem usada.

— Se o fornecedor pedir dados pessoais, pode ser um sinal de golpe. Outra dica é sempre checar o nome do fornecedor em sites de ranking de reclamações. Muitas vezes, ali já há relatos de produtos que nunca foram entregues — recomenda Jabra.

Para Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o consumidor deve fazer uma lista do que quer comprar e acompanhar os preços alguns meses ou semanas antes, para identificar se aquele produto está mesmo em oferta ou não na Black Friday.

No momento em que o consumidor se depara com uma oferta falsa ou um golpe, a recomendação é registrar o anúncio e as comunicações feitas com a empresa. Faça capturas de telas e guarde notas fiscais e contatos com atendimento via WhatsApp ou chat virtual. Registre uma reclamação no Procon e faça um boletim de ocorrência. A plataforma da Secretaria Nacional do Consumidor (consumidor.gov.br) também registra queixas.

Vale a pena antecipar compras de Natal?

O pagamento da primeira parcela do 13º salário no fim deste mês estimula muita gente a aproveitar as promoções da Black Friday para antecipar as compras de Natal. E de fato isso pode ajudar a encontrar descontos melhores e sem aquela pressão de última hora e shopping cheio de dezembro. Por outro lado, é preciso ter cuidado para não comprar por impulso, alerta Carlos Castro, coordenador da comissão de relacionamento da Planejar. Ele recomenda fixar um limite orçamentário definido para a promoção:

— Isso significa estabelecer um valor fixo para gastar com presentes, festas e outras despesas. Ter esse limite ajuda a evitar excessos e a manter o controle sobre os gastos.

Formas de pagamento

Nesta Black Friday, o cartão de crédito desponta como o meio de pagamento preferido dos 44% brasileiros, segundo uma pesquisa recente feita pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), que entrevistou duas mil pessoas. O Pix deverá ser usado por 38% dos consumidores. Dinheiro (22%), cartão de débito (17%), boleto bancário (4%) e cartão de lojas (2%) completam a lista.

De acordo com Ricardo Vieira, vice-presidente da entidade, a vantagem do cartão de crédito é o prazo de pagamento maior e a possibilidade de parcelamento sem juros, além do acúmulo de pontos em programas de benefícios. Mas também pode ser uma boa ideia pagar à vista e pedir desconto a mais à loja, deixando o limite do cartão livre para o Natal.

— Muitas vezes, a loja diz que as parcelas não têm juros, mas pode haver desconto à vista. Então, nesse caso, há, sim, juros na compra parcelada — observa Pierre Souza, professor de finanças da FGV.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/11/17/black-friday-muita-atencao-para-aproveitar-bem-as-ofertas-e-economizar-de-verdade.ghtml