A falta de conhecimento dos consumidores sobre como armazenar medicamentos pode representar um sério risco à sua saúde e pesar no bolso, por causa do desperdício de fármacos estragados. Guardar remédios em condições inadequadas leva a mudanças na sua funcionalidade, podendo até mesmo resultar em efeitos colaterais indesejados.
Deixá-los em lugares quentes, úmidos ou sob a incidência da luz, assim como retirar os fármacos da caixinha, são práticas desaconselhadas. O descarte também deve ser feito da maneira correta, alertam especialistas. Para auxiliar o consumidor a garantir a segurança de seus medicamentos, O GLOBO organizou um guia com orientações. Confira:
Guarde em local seco e fresco
O ambiente onde mantemos os medicamentos é de grande importância para garantir o efeito desejado e a segurança desses produtos. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a exposição excessiva ao calor ou umidade pode alterar as estruturas físico-químicas do medicamento e, assim, comprometer a eficácia e a segurança. A forma de armazenamento pode tornar o prazo da validade inferior ao informado na embalagem, dizem os especialistas. O mesmo se aplica a cosméticos.
A recomendação, de forma geral, é manter os remédios em locais frescos, secos e protegidos da luz. Longe de fontes de calor, como fogões e motores de geladeira, ou da umidade dos banheiros. Recomenda-se ainda lugares altos ou trancados, fora do alcance de crianças.
Não tire da embalagem original
Caroline Dallacorte, engenheira de alimentos e CEO da Syos, explica que a embalagem principal (como vidros e cartelas), assim como a caixinha, ajudam a evitar mudanças nos medicamentos. Todos os produtos passam por testes de segurança e devem ser armazenados na condição em que são encontrados na farmácia. Assim, a validade e os resultados não são alterados.
A tampa de embalagens de vitamina C, por exemplo, têm sílica na composição, impedindo o contato com a umidade do ambiente, o que é importante para manter as características do produto.
— Se mudar de embalagem, é importante que a nova tenha as características da original — diz Caroline.
Pense na maneira e hora de uso
O local de guarda, no entanto, deve ser pensado de forma a garantir que o medicamento seja tomado da maneira indicada e nos horários prescritos, sem falhas, diz a especialista em controle de qualidade da DrQuality, Adriana Nakagawa.
— O banheiro é adequado? Depende. Se o remédio for usado na pele após o banho, não adiantar guardar longe, porque você não vai lembrar dele. Não adianta prezar pela condição superideal, mas ter baixa adesão ao tratamento.
Deixá-lo na cozinha, ao lado da mesa de café da manhã, pode funcionar para que paciente não esqueça o remédio. Deixar de usar a medicação, em alguns casos, pode ser mais arriscado que a forma de armazenamento. A orientação é colocar no lugar mais fresco possível.
Quando o lugar é a geladeira
Há medicamentos que precisam de cuidados especiais no armazenamento. Tratam-se de medicamentos muito sensíveis à temperatura, os chamados termolábeis.
Estão nessa categoria as insulinas, algumas soluções oftálmicas, hormônios para o tratamento de fertilidade ou de crescimento, entre outros. É preciso verificar na caixinha ou na bula a orientação da temperatura de armazenagem. Em geral, varia de 2°C a 8°C.
Este tipo de medicamento jamais pode ser guardado no congelador, onde a temperatura é muito baixa, nem na porta da geladeira, onde há uma variação de temperatura em razão da abertura frequente.
Lei garante remédio fracionado
O fracionamento de medicamentos, em que se compra apenas a quantidade necessária para o tratamento, evitando desperdício e uso indevido. é previsto em lei há quase duas décadas, mas na prática ainda é uma oferta pouco comum nas farmácias brasileiras.
—O fracionamento de medicamentos é medida importante para o uso racional de medicamentos e para o bolso do consumidor. A indústria há anos entrava a medida, porque compra em escala favorece o setor. De todo modo, há farmácias que fazem o fracionamento, e o consumidor pode procurar e dar preferência a esses estabelecimentos — ressalta Ana Carolina Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Evite as caixinhas organizadoras
Os especialistas recomendam evitar o uso das caixinhas, usadas para armazenar e separar os medicamentos de acordo com dias e horários de administração. O Conselho Federal de Farmácia recomenda alguns cuidados:
- Manter o medicamento no organizador pelo menor tempo possível: de preferência os do uso do dia ou até de uma semana.
- Manter em local fresco, sem umidade e protegido da luz do sol.
- Guardar embalagem original e bula para consultar uso, conservação, lote e validade.
- Medicamentos diferentes não devem ficar no mesmo compartimento, porque podem sofrer atritos e causar perdas ou interações químicas indesejáveis.
- Caso o blister traga comprimido ou cápsula individualizada, deve-se recortá-lo.
Beba com água e um de cada vez
Ingerir medicamentos com água também é importante para evitar alterações no princípio ativo, explica Caroline Dallacorte, da Syos. Tomar medicamentos com outros líquidos pode levar a alguma reação química inesperada.
Outro ponto de atenção para quem toma dois medicamentos no mesmo horário: sempre engula os comprimidos separadamente. O ideal também é não mastigar. Comprimido foi feito para engolir. Se você não consegue, estude uma alternativa com seu médico.
O fracionamento de comprimidos só deve ser feito quando é permitido pela fabricante. Caso contrário, há risco de que o paciente não receba a dosagem prescrita. Nos casos em que é possível, o remédio nunca deve ser partido com os dentes.
Atenção na hora do descarte
Remédios na validade, com a embalagem íntegra, informações sobre o lote, podem ser doados. No entanto, medicamentos vencidos ou que não estejam em condições devem ser descartados, mas nunca em lixo comum. Isto porque, as substâncias químicas presentes nos medicamentos podem contaminar o solo. Jogar pela pia ou no vaso sanitário, por sua vez, pode levar a contaminação da água.
Adriana Nakagawa, da DrQuality, lembra que as grandes redes de farmácia oferecem a possibilidade de descarte correto.
— Há farmácias com caixinhas especiais para esse fim. Se o comprimido estiver estranho e a caixinha corrompida, as cartelas costumam vir com telefone 0800 para pedir orientação — explica a especialista.
Onde reclamar
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebe denúncias relativas à área de vigilância sanitária pelo site portal.anvisa.gov.br, seção Ouvidoria, e pelo telefone 0800 642 9782.